Friday, June 3, 2016

CRÍTICA: Eu Sou A Fúria, de Chuck Russell

Nem vale a pena comparar o último selo da cueca de John Travolta com o clássico Death Wish (1974), transposto para papel higiénico pelos dedos sujos de uma criança de oito anos com deficiência mental aguda. Velho, barrigudo e com braços enfezados como gravetos, Travolta é uma sombra do que Sylvester Stallone fez dele em 1983 (Staying Alive – A Febre Continua) e, nos seus 63 anos, já nem faz lembrar o período de recuperação de Get Shorty (1995) e Broken Arrow (1996). Canastrão como poucos da sua geração, repete o Face/Off (1997) com Nicolas Cage, já que o papel ia ser inicialmente deste, a desistir por atrasos na produção, a mesma razão para William Friedkin ser substituído ao leme por Chuck Russell, realizador sem trabalho há 14 anos mas que, no século passado, assinou poucos mas bons títulos: Pesadelo em Elm Street III (1987), The Blob (1988), A Máscara (1994) e Eraser (1996). O seu último filme foi o primeiro de Dwayne Johnson (O Rei Escorpião, 2002) e não o deixou, nem ao épico do tipo Conan o Bárbaro, ficar mal. Não é o caso de Eu Sou A Fúria, porque a história é estúpida e a peruca de Travolta distrai demasiado.
Num mercado saturado de vinganças pessoais pela morte das esposas, esta é tão tarefeira que admira como é que teve luz verde até nos lembrarmos em que ponto está a carreira de Nicolas Cage. E a de John Travolta. Christopher Meloni, mais robusto mas igualmente acabado, é um secundário sem lustro. Mais sorte teve Rebecca de Mornay, inchada de menopausa, mas colírio para tanto sal, por se despachar em duas cenas introdutórias. Antes tivesse sido ela a vingar a morte do marido ...
Eu Sou A Fúria é filme para ver domingo à tarde, bem acompanhado, com pipocas e de costas voltadas para a tela. Não só o twist se torna evidente cedo (assim que o primeiro «gatuno» diz que o homicídio não foi acidental, lembramo-nos de que a vítima se queixou, por duas vezes, de que o chefe a obrigou a confirmar números por estar desagradado com os resultados), como o resto é igualmente previsível e, infelizmente, inepto. Os heróis (Travolta e Meloni) são fotografados à noite por um telemóvel, através de uma janela, à distância e a manterem-se discretamente nas sombras, mas Meloni é identificado em poucas horas como o dono de uma barbearia de bairro e, mesmo depois de enfrentar três capangas enviados ao estabelecimento, os heróis continuam a utilizar a barbearia como refúgio, apesar desta estar comprometida; mas os mânfios não revisitam o local do crime, porque, senão, teria de montar-se mais um cenário. Enfim ...
I Am Wrath 2016

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