Saturday, May 3, 2025

CRÍTICA: C'mon, C'mon, de Mike Mills

Só depois de sobreviver a C’Mon C’Mon se torna possível avaliar que existe ali mais qualquer coisa para além da óbvia aridez narrativa e da confusa neutralidade dramática de misturar laivos documentais estéreis com um fio condutor genérico.

O extenuante tédio em que consiste a primeira hora em pretensioso e despropositado preto e branco segue a história de um tio cansado que se oferece para ficar com o sobrinho enquanto a irmã vai ajudar o ex-marido em crise maníaco-depressiva e o pequeno revela-se hiperactivo, intenso e demasiado falador. Temas como maternidade, infância, esperança, ambiente e futuro são despejados em monólogos soltos retirados de entrevistas com figurantes, intercalados com deslocações por uma Nova Iorque baça e pouco convicta.

O que, no papel, leu ao realizador e argumentista Mike Mills como situações de intimismo realista e uma janela para a interação cogeracional termina na bobina como uma experiência frustrante, para não dizer excruciante, da pobreza dos diálogos ao cansaço dos actores, exacerbado pela moleza da montagem. Fatias da vida da mãe e do pai do sobrinho são dadas através de analepses e enxertos, ao longo do filme, mas não se fica a saber praticamente nada do protagonista, um repórter radiofónico de meia idade. É preciso passar a barreira da metade da duração de quase duas horas para perceber que a narrativa principal não passa de uma curta metragem dentro de um projeto que ocupa o resto do tempo com as referidas entrevistas avulsas, monólogos dos personagens sobre a existência volátil ou um eventual ponto de situação, textos de terceiros a que o realizador decidiu dar visibilidade e demasiada liberdade aos actores para simplesmente respirarem. Joaquin Phoenix em registo telegráfico, o que se justificará pela nota de Mike Mills, que depois de terminar o guião ainda não sabia se tinha nas mãos um drama ou uma comédia, e aí poderá residir a raiz do problema. O tédio tratou do resto, já que este realizador, que divide o seu tempo entre documentários e dramas, mas só fez cinco filmes ao todo, também decidiu misturar os géneros, e se lhe faltava capacidade para interpretar o tom certo para o filme, também não mostrou estaleca para interligar entrevistas reais com narrativa ficcionada.

C'mon, C'mon 2021

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