O primeiro Magic Mike (2012) teve como inspiração a vida profissional do protagonista Channing Tatum e os seus anos de male stripper antes do sucesso na sétima arte. O actor estava no topo do seu magnetismo, já tendo incorporado passos de dança de B-Boy no arranque da franchise Step Up, filme em que conheceu a futura ex-mulher Jenna Dewan. Magic Mike foi auto-financiado pelo próprio e pelo realizador Steven Soderbergh, conseguindo a proeza de fermentar o investimento de 6,5 milhões de dólares em 167 milhões de bilheteira mundial. Não deixa de ser curioso que a primeira escolha de Tatum para realizador tenha sido Nicolas Winding Refn, que recusou por conflitos de agenda com Só Deus Perdoa (2013).
O sucesso do filme motivou uma sequela, à qual faltaram dois dos actores principais (Matthew McConaughey porque ganhou um Oscar e o seu cachet aumentou e Alex Pettyfer porque se incompatibilizou com Tatum durante a rodagem) e Steven Soderbergh reduziu-se pela primeira vez a director de fotografia sem realizar, pelouro que cedeu a Gregory Jacobs, seu assistente de direcção em praticamente duas dezenas de projectos desde Romance Perigoso (1998), incluindo o primeiro Magic Mike. Podia ter sido a sorte grande de Jacobs, mas o filme é um fiasco. Soderbergh retorna para realizar o terceiro filme, mas não faz melhor.
Segundo o guião de Magic Mike XXL (2015), aí devia ter sido a última dança de Magic Mike, mas foi despromovida a penúltima e é o terceiro filme que martela o último prego no proverbial caixão. Channing Tatum tomou o seu batido de creatina e achou que o esforço no ginásio só compensava se pudesse capitalizá-lo ao máximo, pelo que agendou logo três filmes onde tirar a camisola: Dog: A Aventura de Uma Vida (2022), A Cidade Perdida (2022) e Magic Mike: A Última Dança (2023).
Em Magic Mike XXL, Tatum já se tinha deixado de correntes de ar ritmadas, tendo montado o seu negócio de sonho de alta carpintaria, mas os antigos colegas convenceram-no a acompanhá-los numa road trip a caminho de uma convenção de strip. A Última Dança encontra-o como bartender de eventos, porque acordou do negócio de sonho em estado de falência, e a dona do evento parecia triste, pelo que lhe ofereceu os seus préstimos de comprimido articulado. Ela gostou da sua prestação e decidiu substituir a peça de teatro bafienta que estava a produzir num teatro londrino por um musical de cabaret coreografado por ele.
Quem faz avançar a narrativa é a excêntrica Maxandra, representada por Salma Hayek, sendo ela quem monta o espectáculo, contrata os dançarinos, lida com o stress e colhe os louros. Mike vai de embalo, sem motivação pessoal, levado pela mão da personagem secundária que paga as despesas e cuja vontade guia a trama. É a filha dela que narra os eventos em voz off, com a qual Mike tem apenas uma relação residual. Esta não é a história dele, a sua viagem é meramente geográfica, o seu carácter não atravessa qualquer arco, ultrapassa obstáculos ou atinge objetivos. Limita-se a ver Maxandra alcançar todos esses marcos. Se o segundo filme vinha, nitidamente, da gaveta das sequelas de pacote, este terceiro é rebuscado bem do fundo da dita gaveta. E a dança, enfim, dizem que há alguma, espaçada em blocos sonolentos de alguns segundos cada, algures entre o casting e a estreia.
Magic Mike's Last Dance 2023
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