A tragicomédia dos Von Erich, uma família amaldiçoada do wrestling rural com sonhos que nunca chegam a realizar-se. O drama e o horror mesclam-se na cara irreconhecível de Zack Efron, outrora um ídolo juvenil por cima de cujas feições parece agora ter passado um rolo da massa. Mas o actor está perfeito para o personagem, um bem intencionado imbecil que assiste ao ambiente opressivo dentro da sua família, onde a mãe é uma fanática religiosa desligada de instinto maternal e o pai é o treinador implacável dos filhos, que quer coroar campeões contra os seus interesses pessoais, traumas e lesões, ansiando por alcançar o seu maior sonho à custa deles.
The Iron Claw não é um filme motivador nem uma história de sucesso, é um sombrio drama familiar em que a profissão a que desastradamente se dedicam os protagonistas funciona como pano de fundo omnipresente, mas também não é dilacerante como a maldição dos Von Erich justificaria, uma referência ao facto de cinco dos seis filhos terem morrido novos, um por afogamento em criança, outro por reacção adversa à medicação contra as dores e os restantes por suicídio. O realizador opta por um olhar contemplativo, sem a intensidade necessária para se absorver a desgraça das vidas que se entregam a uma carreira circence de pouco retorno, que quebra o corpo e extingue o espírito, cujos pais austeros e obtusos, desprovidos de consolo e conselho, fecham um círculo vicioso de decepções que parece levantar a meia hora do final, quando finalmente se assiste a um combate ao título precedido de um minuto de treino revigorante, logo a seguir a um funeral, onde a convicção e a confluência de eventos parecem precipitar-se para um desfecho diferente, mas é sol de pouca dura, a luta não tem gás para três minutos, serve apenas para abrir um bocadinho os olhos semicerrados do protagonista, Kevin Von Erich, mas só um bocadinho.
Se o arcaboiço de Zack Efron ficou abaixo do de Dwayne Johnson em Baywatch (2017), desta vez a transformação é total, das batatas nos maxilares aos músculos redondos e hidratados como pústulas, às urtigas foram as promessas de nunca mais passar por um regime de exercício e dieta tão exigentes como para o referido fracasso de bilheteira. Acompanhado por Jeremy Allen White, Maura Tierney e Holt McCallany, sob a batuta de Sean Durkin, no seu terceiro filme desde que se estreou em 2011 com Martha Marcy May Marlene (The Nest, em 2020, ficou no meio) The Iron Claw é um exercício em angústia contemplativa num desporto ainda mal compreendido e muito americano.
The Iron Claw 2023
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